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Dragão do Mar recebe festival gratuito protagonizado por agentes culturais e ativistas negros e indígenas a partir desta quarta-feira (8)

por Vicente Araújo

Complexo cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) recebe, a partir desta quarta-feira (8), a quarta edição do Seminário Sesc Etnicidades. Realização do Serviço Social do Comércio (Sesc), por meio do Projeto Identidades Brasilis, o Seminário é uma ação educativa com dimensão formativa e afirmativa que traz, para o Dragão e outros equipamentos da Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece), uma ampla programação gratuita com acesso mediante inscrições online, disponíveis até 8 de novembro no site /www.sesc-ce.com.br/sesc-etnicidades/.

     Conferência, aulas-debates, rodas de conversa e apresentações artísticas integram a agenda. Sob o tema “Os imaginários brasileiros passam por nós: povoar e construir com pessoas indígenas e negras”, a programação foi concebida a fim de provocar reflexões sobre questões referentes às memórias das sociedades originárias e afrodiaspóricas e discutir as construções históricas que legitimaram a marginalização destes dois grupos ao longo da formação do Brasil. O seminário cumpre ainda o exercício de mediar e dar visibilidade às produções artísticas e culturais que circularão no Projeto Identidades Brasilis em 2023.

As atrações

Abrindo a programação, na quarta-feira (8), dez grupos de Maracatu da cidade de Fortaleza participam do cortejo que abre os trabalhos do seminário, a partir das 17h, com concentração na Rua Dragão do Mar em direção ao Anfiteatro Sérgio Motta. 

     Em seguida, às 18h30, acontece a conferência “Os imaginários brasileiros passam por nós: povoar e construir com pessoas indígenas e negras”, onde serão discutidas as contribuições das populações afro-brasileiras e dos povos indígenas na construção do imaginário de Brasil, a partir do diálogo entre Cacique Pequena, considerada pioneira entre as caciques mulheres do Brasil, e Lia de Itamaracá, mestre cirandeira e patrimônio vivo do Estado de Pernambuco. A conversa contará com mediação de Carlos Magno (Sesc) e Ademildes Filho (Sesc).

     Na quinta-feira (9), a partir das 14h, o Auditório do Dragão sedia a gira de conversas “Mel, pimenta e dendê nas encruzilhadas subversivas das narrativas Ìyálodès”, tema abordado por Carolina Rocha, com mediação de Ana Caroline Araújo (Sesc). Nesta gira, oralidade, corpo em movimento e escrita são faces da mesma encruzilhada. Como defendem as convidadas, a literatura escrita por pessoas negras pode ser um campo estratégico na luta contra as opressões, sejam elas de raça, classe, gênero. Palavra é força, energia, agente de mudança e magia. Fonte de poder e responsabilidades. Evoca a história que está escrita nos corpos negros e festas que desenham os parâmetros de liberdade e autonomia. Urge dançar com os saberes ancestrais e a experiência das comunidades tradicionais de terreiro tem importante papel nessa proposta de bem viver. 

     Em seguida, às 16h, também no auditório, Vilma Santos (Acervo da Laje) e mediação de Josiane de Jesus (Sesc/MA) integram a gira de conversas “A poética do recomeço: a retomada da cultura afro-brasileira nas escolas, museus e nas vidas”. No bate-papo, será discutida a importância da cultura afro-brasileira a partir da obra de artistas negros que, segundo Vilma Santos, merecem ter mais visibilidade, como César Bahia, Ray Bahia, Otávio Bahia e Ivana Magalhães, todos com obras no Acervo da Laje.

     A partir das 18h, Antonio Bispo dos Santos conduzirá a aula-debate “A mata escura é para quem sabe caminhar: quando a arte é a própria vida”, que tratará como a arte pode ser um meio de (re)conhecer a vida e a produção cultural dos povos originários e afrodiaspóricos, de compartilhar narrativas estrategicamente ocultadas e de celebrar a riqueza das culturas indígenas e afro-brasileiras. A conversa terá o multiartista e educador Rafael Pinto como mediador.

     Após os debates, a partir das 19h30, a cantora cearense Luiza Nobel apresenta o show “Baile Preto”, projeto criado a partir da vivência da artista em torno da negritude. Em um repertório negro, sua percussão forte e arranjos swingados ecoam as  sonoridades do black music, soul, afoxé e maracatu, trazendo alegria e diversão junto com ritmos historicamente desenvolvidos por culturas da diáspora africana.

     Fechando a programação do IV Seminário Sesc Etnicidades no Dragão, na sexta-feira (10), a partir das 18h, no Anfiteatro, a professora indígena Elisa Pankararu ministrará a aula-debate “O cocar cabe nas escolas?”, da qual participa também Aliã Wamiri Guajajara. Na ocasião, os convidados analisarão como tem funcionado, na prática, a obrigatoriedade da inclusão e a valorização dos povos indígenas nos currículos de ensino fundamental e médio (Lei 11.645/2008). 

Sobre os convidados

Maria Madalena Correia do Nascimento, conhecida como Lia de Itamaracá, é dançarina,compositora e cantora de ciranda brasileira, considerada a mais célebre cirandeira do Brasil, foi titulada como Patrimônio Vivo do estado de Pernambuco e recebeu a medalha do Mérito Cultural do Governo Federal. Nascida em Itamaracá em 1944, ilha do estado de Pernambuco, Lia tem estado entre as referências nacionais da música tradicional e popular. 

Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida como Cacique Pequena tem 69 anos e dedicou sua vida ao movimento de resistência dos povos indígenas cearenses, foi a primeira Cacique Mulher do Brasil. Seu nome indígena é Tigresa, mas é comumente conhecida como pequena. Pequena rompeu costumes e ainda hoje presente nos índios cearenses tornou-se a primeira mulher na função de cacique. É presença constante nas palestras, rodas de conversas e vivências, compartilhando assim, todo o conhecimento da cultura indígenas que carrega.

Carlos Magno Rodrigues é homem negro, ator, produtor e curador. Atualmente supervisor de cultura da unidade Sesc Fortaleza DR/CE, integra a rede Sesc de Arte Educação e a rede Sesc de Artes Cênicas. Circula com o espetáculo “Todo Camburão tem um Pouco de Navio Negreiro”, vencedor do Prêmio Funarte de Arte Negra, do grupo Nóis de Teatro, que celebra seus 20 anos de atuação e atividades na periferia de Fortaleza.

Ademildes Filho é homem negro, cria da baixada fluminense (RJ), produtor cultural e arte educador, atualmente analista de Arte Educação do Departamento Nacional do Sesc, especialista em Marketing e Comunicação pela Universidade Veiga de Almeida e graduado em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense. Sua trajetória se desenrola na articulação, curadoria e produção de projetos culturais, educação não formal e formação de públicos, fez parte das equipes de mediação da Caixa Cultural, Museu do Amanhã e Sesc Rio.


Carolina Rocha é de Xangô, escritora, ativista e historiadora. Doutora em sociologia. Autora do livro: O Sabá do Sertão: feiticeiras, demônios e Jesuítas no Piauí colonial. Publicou nas coletâneas: “Lâmina” (Arte Sabali, 2018); “Inovação Ancestral de Mulheres Negras” (Oralituras, 2019); “Ser Prazeres: transbordações eróticas de mulheres negras” (Oralituras, 2020); “Elas e as letras: insubmissão ancestral” (In-Finita, 2021); Cadernos Negros volume 43, Poesia (Quilombhoje, 2021) e O Livro Negro dos Sentidos (Mórula Editorial, 2021). Idealizadora da Ataré Palavra Terapia, uma comunidade de incentivo à escrita criativa, política e terapêutica. Faz publicação de textos autorais na página Dandara Suburbana.

Ana Caroline Araújo é analista de Memória Social e Patrimônio Cultural do Departamento Nacional do Sesc, mestranda em Cultura e Territorialidades (PPCULT-UFF), especialista em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação (IFRJ) e graduada em Produção Cultural (IFRJ). Atua há 15 anos no mercado cultural com experiências em pesquisa, produção executiva, elaboração de projetos, prestação de contas, gestão e coordenação administrativa e financeira, ações formativas, curadoria e consultoria em projetos culturais para empresas e instituições públicas e privadas. É idealizadora, diretora de produção e coordenação administrativa de projetos relacionados à memória, culturas populares e patrimônio imaterial fluminense como a ação cultural Afluentes Culturais. Pesquisa políticas culturais, memória, patrimônio e articulação entre o trabalho acadêmico e a gestão cultural com objetivo de contribuir na produção de indicadores culturais e na formulação de políticas culturais territorializadas.

Vilma Santos é uma mulher negra, educadora desde os anos 1990. Foi coordenadora voluntária da Pastoral da Criança, Pastoral Afro e Pastoral Carcerária, fundadora do Acervo da Laje, onde coordena a seção educativa, realizou, como curadora e coordenadora as exposições artísticas “1ª Exposição Pública do Acervo da Laje” (2011), na antiga casa de Lázaro e Vera, em Novos Alagados “As águas suburbanas no Acervo da Laje” (2012), no Centro Cultural Plataforma; “A beleza do Subúrbio” (2013), nas ruínas da antiga Fábrica de Tecidos São Braz, em Plataforma; 3ª Bienal da Bahia (2014), no Acervo da Laje, Casa 1; “Memórias Afetivas do Subúrbio Ferroviário de Salvador” (2018) no Subúrbio 360, no bairro de Vista Alegre e participou como convidada da 31ª Bienal de São Paulo “Como falar de coisas que não existem” na mesa “Usos da Arte” (2014).

Josiane de Jesus é Analista de Cultura do Sesc Maranhão atua nas linguagens de Arte Educação, Artes Cênicas e Memória Social e Patrimônio Cultural. Graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas, Especialista em Educação Inclusiva e Gestão Cultural e Mestranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Maranhão.

Antonio Bispo dos Santos é quilombola, lavrador, formado por mestres e mestras de ofícios, estudou até a 8ª série do Ensino Fundamental, morador do Quilombo Saco Curtume, em São João do Piauí – PI. É membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e integrante da rede de mestres e docentes da Universidade de Brasília. Autor de inúmeros artigos e poemas e dos livros: Quilombos, Modos e Significados (2007), Colonização, Quilombos Modos e Significações (2015) e A terra dá, a terra quer (2023).

Rafael Pinto é artista visual, professor de arte do ensino básico, realizador audiovisual, curador, produtor cultural, arte educador e doutorando em Educação na Amazônia. Rafael Pinto desenvolve exposições de artes visuais, mostras de cinema, projetos curatoriais e educativos nas linguagens de artes visuais e audiovisual, e publicações vinculadas às instituições culturais públicas e privadas em Roraima.

Luiza Nobel é cantora, atriz, compositora e arranjadora musical. Foi vencedora do Festival de Música da Juventude de Fortaleza em 2019. Em seu repertório de percussão forte e ritmo swingado, a artista passa pelo Reggae, Rap, RnB, Samba e Soul. Cantar o amor e a beleza que passeia pela MPB é uma das intensidades de Luiza Nobel. Cantora, compositora, atriz, e leonina entregue ao olhar de quem a escuta, Luiza traz, sobretudo, uma voz de liberdade e força, atravessada por sua vivência de mulher negra da periferia.

Elisa Urbano Ramos (Elisa Pankararu) é do povo Pankararu. Professora indígena. Mestre e Doutoranda em Antropologia pelo PPGA UFPE. Atual Coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas da APOINME.

Aliã Wamiri Guajajara é indígena piauiense, educadora artística, produtora cultural, ilustradora de literatura infantil, contadora de histórias e vice cacica da Aldeia Indígena Ukair em Teresina. Faz parte da etnia indígena Guajajara e da etnia timbira do Piauí. Possui graduação em Educação Artística, pela Universidade Federal do Piauí, sendo também pós-graduada, com especialização, em Educação Profissional pelo Instituto Federal do Piauí. É artista participante da exposição “Coração na Aldeia, pés no mundo”, de 2022 – 2023 do Sesc, Piracicaba. É artista do Circuito de Oralidades Sesc Arte da Palavra 2023. Foi selecionada como a 1° curadora internacional indígena do Piauí e registrada na pesquisa da rede LATTAC (Latino americana de Trabajadores del Arte Contemporáneo) . Participou do Projeto Mekukradjá 2019-círculos de saberes indígenas e do Projeto Culturas indígenas no Itaú cultural. É vice cacica da Aldeia Indígena Ukair em Teresina.

PROGRAMAÇÃO 

8 de novembro (quarta-feira)


13h às 20h – Credenciamento 

17h às 18h – Cortejo com Maracatus e Afoxés 

18h30 – Conferência de Abertura “Os imaginários brasileiros passam por nós: povoar e construir com pessoas indígenas e negras”, com Lia de Itamaracá e Cacique Pequena e mediação de Carlos Magno (DR/CE) e Ademildes Filho (DN)
No Anfiteatro Dragão do Mar
Acesso gratuito e livre mediante inscrição via formulário. Duração: 90 min.


9 de novembro (quinta-feira)

14h – Gira de conversas “Mel, pimenta e dendê nas encruzilhadas subversivas das narrativas Ìyálodès”, com Carolina Rocha e mediação de Ana Caroline Araújo (DN)
No Auditório do Dragão do Mar
Acesso gratuito e livre mediante inscrição via formulário. Duração: 90 min.


16h – Gira de conversas “A poética do recomeço: a retomada da cultura afro-brasileira nas escolas, museus e nas vidas”, com Vilma Santos (Acervo da Laje) e mediação de Josiane de Jesus (DR/MA)
No Auditório do Dragão do Mar
Acesso gratuito e livre mediante inscrição via formulário. Duração: 90 min.

18h – Aula-debate “A mata escura é para quem sabe caminhar: quando a arte é a própria vida”, com Nego Bispo e mediação de Rafael Pinto
No Anfiteatro do Dragão do Mar
Acesso gratuito e livre mediante inscrição via formulário. Duração: 90 min.


19h30 – Show “Baile Preto” com Luiza Nobel
No Anfiteatro do Dragão do Mar
Acesso gratuito e livre sujeito à capacidade do local

10 de novembro (sexta-feira)

18h – Aula-debate: “O cocar cabe nas escolas?”, com Elisa Pankararu e mediação de Aliã Wamiri
No Anfiteatro do Dragão Do Mar
Acesso gratuito e livre mediante inscrição via formulário. Duração: 90 min.

Serviço: IV Seminário Sesc Etnicidades no CDMAC – “Os imaginários brasileiros passam por nós: povoar e construir com pessoas indígenas e negras”
Período: De 8 a 10 de novembro de 2023
Horários diversos
Local: Auditório e Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Programação gratuita e livre mediante inscrição online até 8 de novembro
Mais informações: https://www.sesc-ce.com.br/sesc-etnicidades/

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