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Dia Nacional da Caatinga: menos de 2% do bioma conta com proteção integral

por Vicente Araújo

No Dia Nacional da Caatinga, celebrado em 28 de abril, a Associação Caatinga chama atenção para a urgente necessidade de ampliar a proteção desse bioma exclusivamente brasileiro, rico em biodiversidade e essencial para o equilíbrio ecológico do semiárido.

A Caatinga é o único bioma 100% nacional, ocupando cerca de 10% do território brasileiro. Está presente em oito estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais. Abriga uma impressionante diversidade de espécies adaptadas ao clima semiárido da região, como o juazeiro, a ararinha-azul, o tatu-bola e o veado-catingueiro. Estima-se que o bioma concentre mais de 3 mil espécies de plantas e cerca de 1.800 espécies de animais — muitas delas endêmicas, ou seja, exclusivas da região.

Apesar de toda essa riqueza, a proteção legal da Caatinga ainda é extremamente limitada. Um estudo do pesquisador Lucas Peixoto Teixeira revelou que apenas 1,3% da área do bioma está protegida por Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral — áreas com uso mais restrito, voltadas exclusivamente à preservação ambiental. Mesmo considerando todas as categorias de UCs, a cobertura protegida ainda não alcança 8% da área total.

O baixo número de Unidades de Conservação também agrava a vulnerabilidade da Caatinga, que já perdeu cerca de 8,6 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2023 — o equivalente a 14% de sua cobertura original, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A importância da Caatinga vai além da biodiversidade. O bioma abriga comunidades tradicionais, agricultores familiares e populações que dependem diretamente dos recursos naturais para sua sobrevivência. A vegetação da Caatinga é essencial para a regulação do clima, a conservação do solo, a proteção dos recursos hídricos e o enfrentamento à desertificação — uma das maiores ameaças ao semiárido.

Entre os principais fatores de risco para a Caatinga, estão o desmatamento, a expansão agropecuária insustentável, a exploração predatória de madeira, os incêndios florestais e os efeitos das mudanças climáticas. A desertificação, em particular, é um processo alarmante que avança sobre grandes áreas, reduzindo a fertilidade do solo e comprometendo a subsistência das comunidades locais. A ausência de políticas públicas consistentes, aliada à escassa cobertura de unidades de conservação, intensifica a degradação dos ecossistemas da Caatinga.

“A Caatinga é uma das expressões mais autênticas da biodiversidade brasileira. Preservar esse bioma é um ato de respeito à nossa história, à natureza e às futuras gerações. Precisamos avançar na criação e implementação de áreas protegidas e na restauração de áreas degradadas reconhecendo o valor do conhecimento tradicional e incentivando práticas sustentáveis. Proteger a Caatinga é também reconhecer a força, a criatividade e a sabedoria do povo que vive nela, capaz de transformar adversidades em soluções”, destaca Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga.

O futuro do semiárido brasileiro — e o bem-estar de milhões de pessoas que vivem nesse território — está diretamente ligado à conservação da Caatinga. Preservar o bioma é garantir segurança hídrica, alimentar e climática para a região, além de proteger modos de vida que resistem há séculos em harmonia com a natureza. “Investir na Caatinga é investir em um Brasil mais justo e sustentável — onde desenvolvimento e conservação caminham juntos”, conclui Daniel Fernandes.

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